11 abril 2005

Aos meus amigos!

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o
objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que
não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha
vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera
condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto
gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na
sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não
os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são
necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles
fazem parte do mundo que eu, tremulamente,construí e se tornaram alicerces do meu
encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem,
eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem
estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos
sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me
alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se
alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite
ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo
comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca
vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

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